Conta Santa Teresa de Ávila que ao chegar a Salamanca, acompanhada de outra freira, chamada Maria do Sacramento, para ali fundar um novo convento, encontrou uma casa desmantelada, da qual tinham desalojado uns estudantes algumas horas antes. As viajantes entraram na casa já de noite, exaustas e congeladas pelo frio. Os sinos da cidade dobravam a finados, pois era véspera do dia dos fiéis defuntos. Na escuridão, somente quebrada pela chama oscilante do candeeiro, as paredes enchiam-se de sombras inquietantes. Apesar de tudo, deitaram-se cedo sobre uns molhos de palha que tinham trazido com elas. Depois de se meterem naquelas camas improvisadas, Maria do Sacramento, cheia de grandes temores, disse à Santa:
“Madre, estou pensando que, se eu morresse agora, o que faríeis vós sozinha?”
“Aquilo, se viesse a acontecer, parecia-me coisa dura”, comentava anos mais tarde a Santa; “fez-me pensar um pouco nisso e mesmo chegar a ter medo, porque os corpos mortos sempre me enfraquecem o coração, ainda que não esteja sozinha”.
“E como o dobrar dos sinos ajudava, pois como disse era noite de almas, bom começo tinha o demônio para fazer-nos perder o pensamento com ninharias.
“Irmã – disse-lhe –, se isso acontecer, então pensarei no que fazer; agora deixe-me dormir” (Marcelle Auclair, La vida de Santa Teresa de Jesus,)
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