“CERTA VEZ, há já muitos
anos, passava eu uma curta temporada de exercícios militares no povoado mais
alto de Navarra. Fazíamos esses exercícios aproveitando a pausa dos nossos
estudos. Recordo-me de que, estando naquele povoado, chamado Abaurrea, chegou ao
acampamento um jovem tenente, no seu uniforme flamante. Apresentou-se ao chefe
para que lhe dissesse qual a unidade a que estava destinado. Veio depois ter
conosco e comunicou-nos que o comandante lhe dissera que devia ir a Jaurrieta e
que lhe insinuara como a coisa mais natural do mundo que seria bom que tomasse
um cavalo e fosse nele [...]. O novato mostrava-se muito inquieto e passou todo
o jantar falando do cavalo e pedindo conselhos práticos. Então um dos presentes
disse-lhe: «O importante é montar com serenidade, com tranqüilidade, e que o
cavalo não perceba que é a primeira vez que você monta. Isso é fundamental»
[...].
No dia seguinte pela manhã, muito cedo, estava à sua espera um
soldado com o seu cavalo e com outra montaria para carregar as malas. O tenente
montou, mas, pelos vistos, o cavalo notou imediatamente que era a primeira vez
que o fazia, porque, sem mais aquelas, lançou-se num pequeno galope; depois
parou e começou a pastar num dos lados da estrada..., por mais que o tenente
puxasse das rédeas. Quando achou oportuno, continuou a caminhar pela estrada e,
de vez em quando, parava; depois começava a trotar, enquanto o cavaleiro olhava
para os lados, com cara de susto. Nessa situação, cruzou-se com ele uma equipe
de engenheiros que estava instalando um cabo de alta tensão. Um deles
perguntou-lhe:
– Para onde é que você vai?
E o tenente respondeu com grande verdade e com uma filosofia
verdadeiramente realista:
– Eu? Eu ia para Jaurrieta; o que não sei é para onde vai este
cavalo... [...].
Se nos perguntassem de repente: «Para onde é que você vai?»,
talvez nós também tivéssemos que dizer: «Eu? Eu ia para o amor, para a verdade,
para a alegria; mas não sei para onde a vida me está levando»”
(A. G. Dorronsoro, Tiempo para creer)
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