Paróquia Santa Luzia

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17 de out. de 2011

Cristã condenada a morte escreve carta para sua família

Não sei quando me irão enforcar, mas irei sem medo" - Asia Bibi em carta ao marido e filhos da prisão
 
 
«Meu querido Ashiq, meus queridos filhos

«É uma grande provação, esta que tereis de enfrentar.
Esta manhã, fui condenada à morte. Confesso-vos que,
quando ouvi o veredicto, chorei, mas no fundo não
fiquei surpreendida. Não estava à espera de clemência
nem de coragem por parte dos juizes, que se submeteram
às pressões dos mulás e do fanatismo religioso.

«Desde que voltei à minha cela e sei que vou morrer,
todos os meus pensamentos vão para ti, meu Ashiq,
e para vós, meus filhos adorados.

«Censuro-me por vos deixar sozinhos em pleno turbilhão.
A ti, Imram, meu filho mais velho de dezoito anos,
desejo-te que encontres uma boa esposa e que a
faças feliz tal como o teu pai me fez a mim.

Tu, Nasima, minha filha maior de vinte e dois anos,
já encontraste um marido, a família dele e uns
sogros acolhedores; dá ao teu pai os netos que irás
criar na caridade cristã como nós sempre fizemos.

Tu, minha doce Isha, tens quinze anos, mas nasceste
com falta de entendimento. O papá e eu sempre te
considerámos uma dádiva de Deus, tão boa que és
e tão generosa. Não deves perceber porque é que a
mamã não está aí, ao pé de ti, mas estás presente no
meu coração, tens sempre lá um lugar especialmente
reservado, somente para ti.

Sidra, tens apenas treze anos e eu sei que, desde que
estou na prisão, és tu que tratas das coisas da casa,
és tu que tomas conta de
Isha, a tua irmã,
que tanto precisa de ser ajudada. Censuro-me por
obrigar-te a uma vida de adulta, tu que és tão pequena
e que ainda devias brincar com bonecas.

Tu, minha pequena Isham, tens apenas nove anos e
já vais perder a tua mamã. Meu
Deus, como a vida é
injusta! Mas visto que irás continuar a frequentar a
escola, estarás mais tarde habilitada a defender-te
perante a injustiça dos homens.

«Meus filhos não percais a coragem, nem a fé em Jesus Cristo.
Há-de haver dias melhores nas vossas vidas, e, lá no alto,
quando eu estiver nos braços do
Senhor, continuarei a velar
por vós. Mas, por favor, peço-vos a todos os cinco que sejais
prudentes, que não façais nada que possa ultrajar os
muçulmanos ou as normas deste país
. Minhas filhas, gostaria
muito que tivésseis a sorte de encontrar um marido como o vosso pai.

«Ashiq, amei-te desde o primeiro dia, e os vinte anos que
passámos juntos são a prova disso mesmo. Nunca deixei
de agradecer aos céus a sorte de te ter encontrado, de ter
tido a possibilidade de casar por amor e não um matrimónio
combinado, como acontece na nossa região. Os nossos dois
feitios sempre combinaram um com o outro, mas o destino
estava à nossa espera, implacável... Criaturas infames
atravessam-se no nosso caminho. Estás agora sozinho
perante o fruto do nosso amor, mas deves manter a coragem
e o orgulho da nossa família.

«Meus filhos, desde que estou encerrada nesta prisão, oiço
as descrições de outras mulheres para quem a vida também
se mostrou muito cruel. Posso dizer-vos que tivestes a sorte
de conhecer a vossa mãe, a alegria de viver do nosso amor e
da nossa coragem para trabalhar. Sempre tivemos o supremo
desejo, o pai e eu, de sermos felizes e de vos fazermos felizes,
embora a vida não fosse fácil todos os dias.

Somos cristãos e somos pobres, mas a nossa família é uma
grande riqueza
. Gostaria tanto de vos ver crescer, educar-vos
e fazer de vós pessoas honestas – mas sê-lo-eis certamente!

«Sabeis a razão por que vou morrer e espero que não me
censureis por partir assim tão depressa, porque estou inocente
e não fiz nada daquilo que me acusam.

«Tu sabes que é verdade, Ashiq, tal como sabes que sou incapaz
de violência e de crueldade. Às vezes, porém, sou teimosa.

«Por aquilo que calculo, não vai demorar muito. Em poucos
minutos, fui condenada à morte. Não sei ainda quando me irão
enforcar, mas podeis estar tranquilos, meus amores, irei de
cabeça levantada, sem medo, porque serei acompanhada por
Nosso Senhor e pela Santa Virgem Maria, que vão receber-me
nos seus braços.
Meu bom marido, continua a educar os nossos
filhos como eu gostaria de fazer contigo.

«Ashiq, meus filhos bem-amados, vou deixar-vos para sempre,
mas amar-vos-ei eternamente.»

Fonte: "Blasfémia", Asia Bibi, Aletheia, p. 54

3 comentários:

  1. Como me emocionei...Não tem como não chorar com está TERRÍVEL história.
    Meu Deus, tenha misericórdia desta pobre alma e desta linda família... Maravilhoso exemplo de imenso amor , confiança e fé em Jesus. Oremos por eles...

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  2. Pedro Henrique Marcelino Honorato17 de outubro de 2011 às 13:57

    Meu Deus, que belo gesto nobre, e ainda reclamamos da bela vida que temos... Que Deus seja o bálssamo para toda essa familia, e que Ele juntamente com Nossa Senhora acalente essa mulher, um verdadeiro exemplo de que "Quando se é Cristão, ñ se para de lutar... ate chegar ao ceu" ♪

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