Segundo Domingo da Quaresma
No segundo Domingo da Quaresma, a Palavra de Deus define o caminho que o verdadeiro discípulo deve seguir: é o caminho da escuta atenta de Deus e dos seus projetos, da obediência total e radical aos planos do Pai.
O Evangelho relata a transfiguração de Jesus. Recorrendo a elementos simbólicos do Antigo Testamento, o autor apresenta-nos uma catequese sobre Jesus, o Filho amado de Deus, que vai concretizar o seu projeto libertador em favor dos homens através do dom da vida. Aos discípulos, desanimados e assustados, Jesus diz: o caminho do dom da vida não conduz ao fracasso, mas à vida plena e definitiva. Segui-o, vós também.
Na primeira leitura apresenta-se a figura de Abraão. Abraão é o homem de fé, que vive numa constante escuta de Deus, que sabe ler os seus sinais, que aceita os apelos de Deus e que lhes responde com a obediência total e com a entrega confiada. Nesta perspectiva, ele é o modelo do crente que percebe o projeto de Deus e o segue de todo o coração.
Na segunda leitura, há um apelo aos seguidores de Jesus, no sentido de que sejam, de forma verdadeira, empenhada e coerente, as testemunhas do projeto de Deus no mundo. Nada – muito menos o medo, o comodismo e a instalação – pode distrair o discípulo dessa responsabilidade.
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(Mt 17,1-9)
Naquele tempo, 1Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. 2E foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz. 3Nisto apareceram-lhe Moisés e Elias, conversando com Jesus.
4Então Pedro tomou a palavra e disse: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. 5Pedro ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra. E da nuvem uma voz dizia: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado. Escutai-o!”
6Quando ouviram isto, os discípulos ficaram muito assustados e caíram com o rosto em terra. 7Jesus se aproximou, tocou neles e disse: “Levantai-vos e não tenhais medo”.
8Os discípulos ergueram os olhos e não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus. 9Quando desciam da montanha, Jesus ordenou-lhes: “Não conteis a ninguém esta visão até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos”.
Comentário do dia: São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero de Antioquia, bispo de Constantinopla, doutor da Igreja. Homilias sobre o Evangelho de Mateus, n º 56; PG 58, 549
«Não conteis a ninguém o que acabastes de ver, até que o Filho do Homem seja ressuscitado dentre os mortos»
Jesus Cristo conversou muito com os seus discípulos acerca dos seus sofrimentos, da sua Paixão e morte, e predisse os males que iria suportar e a morte violenta que um dia os faria sofrer (Mt 16,21-26). Foi por isso que, depois de lhes dizer coisas tão duras e tão difíceis, tentou consolá-los evocando as recompensas que lhes daria quando viesse na glória de seu Pai (v. 27). […] Quis mostrar-lhes com antecedência, na medida em que eles eram capazes de o compreender nesta vida, a grande majestade na qual estava para vir, impedindo assim a perturbação e a dor que os seus apóstolos, especialmente Pedro, poderiam sentir perante a sua morte. […]
«Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João.» Porque tomou apenas esses três apóstolos? Provavelmente porque eles excediam os outros: São Pedro por causa de seu entusiasmo e do seu amor; São João porque era o discípulo que Jesus amava (Jo 13,23), e São Tiago, porque dissera, com seu irmão: «Podemos [beber o teu cálice]» (Mt 20,22), e porque manteve a sua palavra (At 12,2). […]
Porque fez aparecer Moisés e Elias? […] Ele era constantemente acusado de violar a Lei e de blasfemar, apropriando-Se de uma glória que não Lhe pertencia, a glória do Pai.[…] Querendo pois mostrar que não violava a Lei e que não Se atribuía uma glória que não Lhe pertencia, Jesus invoca a autoridade das duas testemunhas mais irrepreensíveis: Moisés, que dera a Lei […], e Elias, que fora abrasado de zelo pela glória e o serviço de Deus (1Rs 19,10). […] Além disso, queria ensinar-lhes que era o senhor da vida e da morte, trazendo à sua presença um homem que estava morto e outro que tinha sido transportado vivo numa carruagem de fogo (2Rs 2,11). E queria revelar aos seus discípulos a glória da sua cruz, consolar Pedro e os companheiros, que se sentiam atemorizados pela sua Paixão, aumentar-lhes a coragem. Com efeito, Moisés e Elias falavam com Ele da glória que haveria de receber em Jerusalém (Lc 9,31), ou seja, da sua Paixão e da sua cruz, que os profetas sempre tinham apelidado de sua glória.
Responsório (Sl 32)
— Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça,/ venha a vossa salvação!
— Pois reta é a palavra do Senhor,/ e tudo o que ele faz merece fé./ Deus ama o direito e a justiça,/ transborda em toda a terra a sua graça.
— Mas o Senhor pousa o olhar sobre os que o temem,/ e que confiam esperando em seu amor,/ para da morte libertar as suas vidas/ e alimentá-los quando é tempo de penúria.
— No Senhor nós esperamos confiantes,/ porque ele é nosso auxílio e proteção!/ Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça,/ da mesma forma que em vós nós esperamos!
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