Na liturgia, sobretudo na missa, Cristo está presente de várias maneiras. Uma delas é quando se lêem as Escrituras. Quando se fazem as leituras, se canta o salmo e se proclama o Evangelho, é Cristo mesmo que se comunica com seu povo reunido.
Não é um livro e nem são palavras que se lêem, mas é a Palavra viva (Cristo mesmo!) que se anuncia como Palavra de vida para todos. É o que nos ensina a Igreja. É só conferir os n.7 e 33 da Constituição sobre a Sagrada Liturgia (SC) do Concílio Vaticano II. Afirma textualmente o documento: "Na liturgia Deus fala a seu povo. Cristo ainda anuncia o Evangelho" (SC 33).
Então eu pergunto: Quando você vai à missa (ou mesmo numa celebração dominical da Palavra), dá para sentir de fato que é Deus que está falando com seu povo, quando se lêem as Escrituras? Ou tem alguma coisa (algum "ruído") que atrapalha?... E olha! Você tem todo direito (e até obrigação!) de sentir Deus falando com você (veja o n.14 da citada Constituição)!
Você está conseguindo desfrutar desse sagrado direito? Pois bem, para que você possa, na missa, desfrutar do sagrado direito de sentir Cristo falando com você e com todo o povo reunido, seguem aqui algumas recomendações para as equipes de liturgia, para os leitores, para os salmistas e para os padres:
Quem vai ler deve preparar-se espiritualmente para a leitura. Ler antes. Meditar. Orar em cima da Palavra. Deixar ela tomar conta de todo o seu ser (corpo, mente, coração, emoções). O leitor e a leitora devem ser os primeiros ouvintes da Palavra. E também devem se preparar tecnicamente, através de ensaios, cursos e avaliações para aperfeiçoamento. É muito importante.
Atenção equipes de liturgia! Evitar pegar pessoas na última hora para ler, em cima da hora, de improviso. Inclusive se recomenda que a leitura seja entregue pela equipe com bastante antecedência, para ser preparada com calma, até mesmo durante toda a semana.
Recomenda-se que a proclamação da Palavra seja feita de um lugar apropriado, só para ela: de uma estante especial, grande, bonita, distinta, que oficialmente chamamos de ambão. Isso para enfatizar o "lugar" de onde Deus fala para o seu povo. Por isso, para dar distinção à Palavra, não usar este espaço para outras coisas. Comentários e avisos sejam feitos em outro lugar.
A Igreja orienta que as leituras sejam feitas diretamente do livro de leituras (chamado de lecionário). Isso por causa de dignidade da Palavra de Deus. O folheto é uma espécie de descartável. Hoje se usa e amanhã é jogado fora, vai para o lixo. A Palavra não é "descartável". É eterna. É Cristo. Por isso, por ser eterna, convém que ela seja proclamada diretamente do livro (não-descartável). A dignidade da Palavra exige que se evite o "ruído" do uso de "descartáveis" para a sua proclamação.
Recomenda-se também que, ao ouvir a Palavra (seja nas leituras e no canto do salmo, como, sobretudo na proclamação do Evangelho), o povo não fique acompanhando pelo folheto. A Palavra é para ser "ouvida"! Deus fala e você ouve... Quando alguém fala com você (ainda mais quando é Deus quem fala!), você fica de olho grudado no jornal? Evidente que não!
É questão até de educação. Quando Deus fala para você, desgrude o olho do jornal. Apenas olhe para frente (para o leitor ou leitora) e escute, "ouça" o que o Senhor diz! O ideal seria que os folhetos nem trouxessem os textos das leituras, do salmo e do evangelho. Exatamente para ajudar as pessoas a exercer o seu sagrado direito de realmente sentir Deus falando.
Quem proclama a Palavra, ao fazer as leituras, faça-o com voz clara (para todos ouvirem!), devagar, pausadamente, respeitando as pontuações. E, sobretudo, ler com espiritualidade, vivenciando o que lê, colocando emoção no que lê. Evite-se o "ruído" da leitura rápida demais, em voz baixa, sem pontuação e, sobretudo, sem espiritualidade.
A dignidade da Palavra exige também, da parte de quem a lê, uma postura digna. O leitor (ou leitora) fique apoiado (a) sobre os dois pés, exatamente para expressar a firmeza desta rocha que é a Palavra. Por isso, evite-se o "ruído" de permanecer apoiado (a) sobre um pé só (com o outro pé para trás, ou para frente).
E mais: ao ler, olhar com carinho para os ouvintes, como Deus olha para o seu povo. No olhar de quem lê, os ouvintes querem sentir o olhar de Deus. Evite-se, portanto, o "ruído" de ficar com o olhar preso só no livro. E mais: em muitas comunidades no Brasil, quem vai fazer a leitura já coloca uma veste própria para o exercício deste ministério.
Não ler os títulos orientativos, tais como: "Primeira leitura", "Segunda leitura", "Salmo responsorial", "Evangelho". Isso não é Palavra de Deus. São apenas títulos para não se perder. Quando estes títulos são lidos, quebra-se o ritmo e a harmonia da escuta da Palavra. Evite-se também este "ruído". Nunca se diga o nome da pessoa que vai fazer a leitura.
Dizer o nome da pessoa significa dar destaque à pessoa. Na hora de fazer a leitura, quem deve estar em destaque é, acima de tudo, a Palavra! Toda a atenção tem que estar centrada é na Palavra. Assim sendo, dizer o nome de quem vai ler significa, de certa maneira, "roubar a cena" da Palavra. É um "ruído" a mais que desvia a atenção do centro, que é Cristo falando para o seu povo.
Quando termina a leitura, diga-se "Palavra do Senhor", ou "Palavra da Salvação" (no caso do Evangelho), no singular. Por quê? Porque é Cristo-Palavra que foi proclamado. Por isso, evite-se o ruído de dizer "Palavras do Senhor" ou "Palavras da Salvação" (no plural). Pois não são "palavras" que são lidas, mas é "a Palavra" (Cristo) que é proclamada. Outra coisa: faça-se uma pequena pausa antes de dizer "Palavra do Senhor" ou "Palavra da Salvação". Isso ajuda a vivenciar melhor o que foi lido e ouvido.
Enfim, que tal implementar, nas dioceses, paróquias e, até
mesmo, em institutos teológicos e pastorais, escolas de preparação para leitores, como era costume em certas comunidades dos primeiros séculos do cristianismo!... Um maravilhoso sinal de que a Palavra na Liturgia é de fato levada a sério, no mesmo nível como a sério é levada a Eucaristia.
(texto extraído da revista Mundo e Missão)
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