A liturgia deste domingo ensina-nos que Deus tem um “fraco” pelos humildes e pelos pobres, pelos marginalizados; e que são estes, no seu despojamento, na sua humildade, na sua finitude (e até no seu pecado), que estão mais perto da salvação, pois são os mais disponíveis para acolher o dom de Deus.
A primeira leitura define Deus como um “juiz justo”, que não se deixa subornar pelas ofertas desses poderosos que praticam injustiças na comunidade; em contrapartida, esse Deus justo ama os humildes e escuta as suas súplicas.
O Evangelho define a atitude correta que o crente deve assumir diante de Deus. Recusa a atitude dos orgulhosos e auto-suficientes, convencidos de que a salvação é o resultado natural dos seus méritos; e propõe a atitude humilde de um pecador, que se apresenta diante de Deus de mãos vazias, mas disposto a acolher o dom de Deus. É essa atitude de “pobre” que Lucas propõe aos crentes do seu tempo e de todos os tempos.
Na segunda leitura, temos um convite a viver o caminho cristão com entusiasmo, com entrega, com ânimo – a exemplo de Paulo. A leitura foge, um pouco, ao tema geral deste domingo; contudo, podemos dizer que Paulo foi um bom exemplo dessa atitude que o Evangelho propõe: ele confiou, não nos seus méritos, mas na misericórdia de Deus, que justifica e salva todos os homens que a acolhem.
Jean Tauler (c. 1300-1361), dominicano em Estrasburgo
Sermão 48, para o 11º domingo depois da Trindade
Estes dois homens subiram ao Templo. O Templo é o amoroso fundo interior da nossa alma, no qual a Santíssima Trindade vive tão cheia de amor, trabalha tão nobremente, no qual depositou tão generosamente todo o Seu tesouro, onde Se compraz e Se alegra no gozo da Sua nobre imagem e semelhança (cf. Gn 1,26). Ninguém pode exprimir de maneira perfeita a nobreza e a alta dignidade desse Templo; é nele que temos de entrar para orar. E, para que a oração seja bem feita, tem de haver dois homens a subir [...], o homem exterior e o homem interior. A oração que faz o homem exterior de pouco ou nada serve sem o homem interior. Para avançar, realmente, no caminho da oração verdadeira e bem feita, nada é de maior ajuda e maior utilidade que o precioso corpo eucarístico de Nosso Senhor Jesus Cristo. [...] Meus queridos filhos, deveis sentir-vos extraordinariamente reconhecidos por essa grande graça vos ser agora dada mais frequentemente que antes, e deveis preferi-la a qualquer outro auxílio. [...]
Portanto, um dos dois homens era um fariseu e o Evangelho diz-nos o que lhe aconteceu. O outro era um publicano que se mantinha afastado e, sem ousar levantar os olhos para o céu, dizia: «Ó Deus tem piedade de mim, que sou pecador»; para este, a oração terminou de modo feliz. Na verdade, gostaria de agir como ele e ter sempre em consideração a minha pequenez. Seria, absolutamente, a via mais nobre e útil que poderíamos seguir. Esse caminho traz Deus ao homem, sem cessar e sem intermediários, pois, onde Deus chega com a Sua misericórdia, chega com todo o Seu ser, chega Ele mesmo.
Ora, acontece que os sentimentos desse publicano entram na alma de algumas pessoas que então, conscientes dos seus pecados, querem fugir de Deus e do Santíssimo Sacramento, dizendo que não ousam aproximar-se dele. Não, meus queridos filhos, deveis, pelo contrário, ir com muito mais vontade à comunhão, para serdes perdoados das vossas faltas e dizerdes: «Vem, Senhor, vem depressa, antes que a minha alma morra em pecado; é necessário que venhas rapidamente, antes que ela morra de todo» (cf Jo 4,49).
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