Iniciamos...: Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amem.
Ave Maria, cheia de graças...
CAPÍTULO III « PARA MIM, O VIVER É CRISTO »
O “Pai nosso”
32. Após a escuta da
Palavra e a concentração no mistério, é natural que o espírito se eleve para o
Pai. Em cada um dos seus mistérios, Jesus leva-nos sempre até ao Pai, para Quem
Ele Se volta continuamente porque repousa no seu “seio” (cf. Jo 1,18). Quer
introduzir-nos na intimidade do Pai, para dizermos com Ele: « Abbá, Pai » (Rom
8, 5; Gal 4, 6). É em relação ao Pai que Ele nos torna irmãos seus e entre nós,
ao comunicar-nos o Espírito que é conjuntamente d'Ele e do Pai. O “Pai nosso”,
colocado quase como alicerce da meditação cristológico-mariana que se desenrola
através da repetição da Ave Maria, torna a meditação do mistério, mesmo quando
é feita a sós, uma experiência eclesial.
As dez “Ave Marias”
33. Este elemento é o
mais encorpado do Rosário e também o que faz dele uma oração mariana por
excelência. Mas à luz da própria Ave Maria, bem entendida, nota-se claramente
que o carácter mariano não só não se opõe ao cristológico como até o sublinha e
exalta. De facto, a primeira parte da Ave Maria, tirada das palavras dirigidas a
Maria pelo Anjo Gabriel e por Santa Isabel, é contemplação adoradora do
mistério que se realiza na Virgem de Nazaré. Exprimem, por assim dizer, a
admiração do céu e da terra, e deixam de certo modo transparecer o encanto do
próprio Deus ao contemplar a sua obra-prima –a encarnação do Filho no ventre
virginal de Maria – na linha daquele olhar contente do Gênesis (cf. Gn 1, 31),
daquele primordial « pathos com que Deus, na aurora da criação, contemplou a
obra das suas mãos ». A repetição da Ave Maria no Rosário sintoniza-nos com
este encanto de Deus: é júbilo, admiração, reconhecimento do maior milagre da
história. É o cumprimento da profecia de Maria: « Desde agora, todas as
gerações Me hão-de chamar ditosa » (Lc 1, 48).
O baricentro da Ave Maria, uma espécie de charneira entre a primeira parte e a segunda, é o nome de
Jesus. Às vezes, na recitação precipitada, perde-se tal baricentro e, com ele,
também a ligação ao mistério de Jesus que se está a contemplar. Ora, é
precisamente pela acentuação dada ao nome de Jesus e ao seu mistério que se
caracteriza a recitação expressiva e frutuosa do Rosário. Já Paulo VI recordou na
Exortação apostólica Marialis cultus o costume, existente nalgumas regiões, de
dar realce ao nome de Cristo acrescentando-lhe uma cláusula evocativa do
mistério que se está a meditar. É um louvável costume, sobretudo na
recitação pública. Exprime de forma intensa a fé cristológica, aplicada aos
diversos momentos da vida do Redentor. É profissão de fé e, ao mesmo tempo, um
auxílio para permanecer em meditação, permitindo dar vida à função
assimiladora, contida na repetição da Ave Maria, relativamente ao mistério de
Cristo. Repetir o nome de Jesus – o único nome do qual se pode esperar a
salvação (cf. At 4, 12) – enlaçado com o da Mãe Santíssima, e de certo modo
deixando que seja Ela própria a sugerir-no-lo, constitui um caminho de
assimilação que quer fazer-nos penetrar cada vez mais profundamente na vida de
Cristo.
Desta relação muito
especial de Maria com Cristo, que faz d'Ela a Mãe de Deus, a Theotòkos, deriva
a força da súplica com que nos dirigimos a Ela depois na segunda parte da
oração, confiando à sua materna intercessão a nossa vida e a hora da nossa
morte.
Próximo parágrafo: o “Glória”
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